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quarta-feira, 28 de março de 2012

Aventura no Pico

Aqui fica um link para a reportagem da TVI sobre a primeira aventura da Maria João com a AJDP (e para aí a minha décima!). Mostra um grupo de diabéticos em actividades de montanha no Pico, nos Açores, incluindo a subida ao Pico, a escalada nas falésias de basalto da ilha, espeleologia, etc.


Aproveitamos para agradecer à AJDP e a todos os participantes, a todos os patrocinadores (em especial à S-Trail www.s-trail.com que forneceu o equipamento para o dia de escalada), o apoio local e ainda aos nossos guias do "Cume 2351 Outdoor Experience" - Nilton, Mike e Johny!


O grupo no topo do pico.
O grupo numa das várias caminhadas pela ilha.

Catarina a escalar as falésias da Madalena

MJ também na Madalena



sexta-feira, 23 de março de 2012

Regular glicemias em montanha: o que pode correr mal e como te podes preparar

O montanhismo, alpinismo ou mesmo caminhadas, são actividades que requerem um esforço físico intenso muito diferente daquele a que a maioria de nós está habituada. Implicam actividade aeróbica continuada durante períodos muito longos (às vezes todo o dia ou vários dias seguidos) e se tentarmos fazer o mesmo tipo de alimentação que num dia “normal”, entramos facilmente em défice e arriscamos ter hipoglicémias. Para além disso quebram-se as rotinas e podem surgir inúmeros percalços. Por exemplo, a ansiedade e a adrenalina alteram muitíssimo os valores das glicemias pelo que temos de aprender a ter em conta este factor.

A melhor maneira de ultrapassares estes problemas será ganhando prática e começando devagar. O simples facto de saberes que estes problemas podem surgir e estares preparado para lidar com eles ou para os evitar irá tornar a experiência mais fácil e gratificante. 

Por isso preparámos 1 lista de “truques” para te ajudar a planear estas actividades (e acho que a maioria se pode aplicar a qualquer pessoa com ou sem diabetes):

 1. Coloca o alarme do telemóvel para te lembrares de tomar a medicação à hora certa;

 2. Planeia bem a actividade: prevê o tempo que vais demorar em cada etapa; vê as previsões meteorológicas (que podem afectar muito o teu desempenho e o tempo necessário para terminares a actividade);

3. Leva medicação extra, baterias extra, roupa extra para o caso das condições mudarem; 

4. Quando planeias a actividade, pensando em quanto tempo necessitas para as diferentes etapas, planeia também as refeições/snacks. Assim não te esqueces de comer e medir a glicemia (o que acontece muito facilmente quando estamos demasiado excitados com todas as“novidades” ou quando estamos demasiado cansados). 
Por exemplo para um dia de escalada intenso eu faço este planeamento: 7h – peq.almoço (papas de aveia + maçã); 7h30 – caminhada; 9h – pequena pausa com snack (bolachas); equipar para escalar; 9h30 – início de via com duração estimada de 5 horas (2 snacks para ir comendo - barra de cereais +frutos secos); 14h – pico – pausa para “almoço”(sandes) e apreciar as vistas;14h30 – descida do pico e caminhada de regresso (chocolate e barra de cereais para o caminho).

Já se for a Catarina (tipo 1) fará qualquer coisa do tipo: 7h – peq.almoço (copo de leite e pão); 7h30 – caminhada; 9h – pausa e snack (snickers) mede a glicemia e terá que ter no mínimo 150 para poder escalar, caso contrário come mais snacks (se estiver alta come o snickers na mesma mas daria 2 unids de insulina); equipar para escalar; 9h30 – início de via com duração estimada de 5horas (snacks - chocolates, frutos secos, sumos para comer de hora a hora, fazendo a glicemia no mínimo de 2h em2h; procura manter-se entre os 150 e os 250); 14h – pico – glicémia e almoço (sandes, fruta, leite com chocolate/iogurte); 14h30 – descida do pico e caminhada de regresso (chocolate antes de partir, para evitar hipos);

5. Leva comida extra. Os gastos energéticos serão muito mais elevados doque num dia “normal”. Levar comida rica em açúcar (chocolates; barras energéticas; géis) é muito importante, mesmo que te tenham dito o contrário; os tipo 1 normalmente também reduzem as doses de insulina para compensar os gastos energéticos mais elevados;

6. Leva comida variada. Quando se tem de comer muitas vezes começa-se a enjoar das barras e snacks…

7. Conta com o efeito da adrenalina quando medes as glicemias (em breve vamos publicar 1 artigo a explicar este efeito…);

8. Mantém um bom nível de hidratação, para um dia como o que descrevemos deves beber no mínimo 2L de água durante a actividade e à noite beber também muitos líquidos;

9. Escolhe actividades/ percursos/ dificuldades adequados às tuas capacidades;

10. Assegura-te de que as pessoas que vão contigo sabem que tens diabetes, o que é que isso significa e como deverão reagir caso alguma coisa corra menos bem. É claro que as pessoas que te acompanham não devem de ter medo que alguma coisa terrível aconteça, mas devem estar cientes que pode ser preciso parar com mais frequência para te permitir medir glicemias ou comer. Também é útil que as pessoas que te acompanham saibam identificar os sinais de uma hipoglicémia (palidez, tremuras, confusão).

A experiência vai ajudando a que cada aventura corra melhor, a que cada vez te sintas mais preparado, e a que cada vez te divirtas mais…
Catarina num trekking no Círculo de Gredos
MJ num trekking na Patagónia

quarta-feira, 21 de março de 2012

Diabetes tipo 1: o início

A minha história é muito diferente da Maria João. Eu hoje praticamente já não me lembro de não ser diabética… fui diagnosticada aos 8 anos de idade e o que prevalece na minha memória dos meses pré diagnóstico é uma sede terrível tinha perdido 5 kgs em 2 meses e a minha mãe estava super preocupada o que fazia com que eu bebesse água às escondidas para ela não ficar pior. Não me sentia cansada e nunca cheguei a entrar em coma, o meu pediatra desconfiou quando viu as minhas análises e mandou-me logo para um especialista de endocrinologia.

Durante muito tempo a diabetes foi não comer doces e dar as picas. Tudo ok até ter cerca de 13 anos. Aí comecei a ficar danada por não poder comer o que os meus colegas e amigos comiam. Quando no final da adolescência o médico explicou que agora o teste à glicemia era no sangue, eu odiei aquilo e simplesmente continuei a fazer testes na urina… a afinidade entre mim e o meu médico também não era das melhores…aos 18 anos disse-me “Parabéns! Dez anos de diabetes e ainda não tens problemas na visão! O mais normal seria teres!” A partir dessa altura, em todas as consultas me perguntava quando eu pretendia engravidar, visto que, como diabética, era bom que fosse depressa! Farta desta conversa, procurei outros médicos mas sem sucesso, não sentia empatia com nenhum. Entretanto desde miúda que sempre fiz alguma atividade física, muito graças à diabetes, visto que primeiro os meus pais e depois eu própria, sabíamos que fazer desporto era benéfico para o controlo metabólico. Para além disso, tinha (e tenho) um pai atlético. Daí que tenha começado pela vela mas (desculpa-me pai) nunca foi o meu estilo! Contudo adorava a água pelo que no final da adolescência os meus dois desportos, que praticava regularmente, eram a natação e a corrida. A corrida surgiu por acaso, através de um amigo, e foi ficando, fui correndo, sem material de jeito, sem objetivos, apenas porque me sentia bem a “sacudir os ossos”.

Aos 25 anos conheço a AJDP http://www.ajdp.org/ que nesse verão de 2000 tinha o projeto de ir aos Alpes. O montanhismo era algo que me atraía imenso mas que eu tinha dificuldade em entrar visto que não se faz sozinho e os meus amigos da altura não faziam desporto quanto mais montanha. A partir desse momento a minha vida mudou bastante, para melhor. Passei a ter companhia para correr e objetivos para os meus treinos. Comecei a fazer meias maratonas e em 2008 fiz a maratona de Berlim .


Para além disso passei a ter gente com quem conversar sobre o meu controlo da diabetes e conheci uma excelente médica que é uma grande desportista. Passei a fazer montanhismo e desenvolvi uma paixão tão grande pela montanha que vejam onde eu moro hoje: Covilhã (Serra da Estrela, o ponto mais alto de Portugal… não foi por acaso!!).
Depois a partir de 2008 comecei a escalar e mais uma vez percebi que, como com a diabetes, podemos progredir e fazer melhor a cada dia.
Aquilo que era sobretudo um meio de controlo da diabetes, o desporto, passou a estar presente diariamente na minha vida e ainda a ser a minha principal atividade de tempos livres. Gosto de fazer outras coisas, como ir ao cinema ou a concertos mas escalar e fazer trekkings são geralmente os meus planos de fins de semana e férias porque descontraio e me divirto imenso. Às vezes penso, se eu não tivesse ficado diabética, será que hoje também faria estas coisas? Nunca poderei saber mas claramente este é um lado bom da (minha) diabetes!!

segunda-feira, 19 de março de 2012

Diabetes tipo 2: o início


Há cerca de 1 ano atrás sentia-me na melhor forma de sempre. Andava a treinar ou escalar cerca de 5 vezes por semana e andava a escalar as vias mais difíceis que já tinha experimentado.
Por isso, quando numa consulta de rotina a médica me disse que as minhas análises pareciam indicar diabetes, fiquei perplexa. E ainda mais quando ela me perguntou, como que a tentar confirmar o diagnóstico, se ultimamente me andava a sentir cansada ou com falta de força.

Que sentido fazer de um diagnóstico destes? Os diabéticos tipo 2 têm em geral excesso de peso, idades avançadas, estilos de vida sedentários. Porquê eu? E o que é que isso significaria para a minha vida? Para a minha escalada? E para as minhas aventuras nas montanhas?

Perguntei à médica o que fazer. Ela sugeriu o que me pareceu a “receita tipo” para diabéticos tipo 2: que fizesse exercício, reduzisse a ingestão de açúcares e hidratos de carbono. Tentei explicar-lhe que exercício já eu fazia e muito, ao que ela respondeu “óptimo! Então é só continuar”. Saí dali com montes de perguntas.

Uma semana depois fui de férias – 1 semana de escalada na Catalunha. Tinha planeado dias de escaladas de largos, que envolviam longas caminhadas de aproximação, várias horas de escalada e depois também uma hora ou mais para descer e regressar ao acampamento.

Claro que as férias não correram nada bem! Ao mesmo tempo que fazia todo este exercício, tentava não comer nada com açúcar e cortar nos hidratos de carbono. Nessa semana perdi mais de 2kg (o que para mim já é bastante) e passei metade dos dias sem energia para fazer aquilo que tinha planeado. Voltei ainda com mais dúvidas e mais questões.

Quando regressei a Portugal, telefonei logo à minha amiga Catarina, diabética tipo 1 desde criança e que sempre fez montes de exercício, incluindo maratonas. Ela deu-me alguns conselhos, o mais importante de todos, foi o de ir à médica dela, que há muitos anos trabalha com diabéticos que fazem desporto.

Escalada em Vila Nova de Meía, Catalunha
A partir daí comecei a ter respostas para as minhas questões e comecei a aprender a lidar com a diabetes sem deixar de ter o estilo de vida que adoro. A ideia deste blog começou a nascer nessa altura, quando me apercebi o quão difícil é obter respostas e quão importantes estas respostas são. E a resposta mais importante que tive e que mais quero partilhar foi esta: a diabetes não deve limitar a tua vida - é possível viver com a diabetes e fazer o que gostas!

sexta-feira, 16 de março de 2012

De onde vimos?

Este blog partiu de uma grande vontade de partilhar ideias e experiências sobre como viver com a diabetes sem limitações…

A diabetes é uma doença que precisa de ser gerida pelo próprio doente e não basta seguir as recomendações do médico, é preciso entender o nosso metabolismo e saber como vai reagir ao que fazemos no dia-a-dia. A relação entre diabetes e desporto é particularmente complexa visto que os efeitos que desencadeiam entre si são muitas vezes ainda desconhecidos para a medicina. Como diabéticas e desportistas, temos sentido essas dificuldades e queremos partilhar as nossas experiências com a diabetes e com o desporto bem como partilhar experiências de outros diabéticos activos; reunir informação útil sobre como gerir a diabetes e o desporto e ainda ajudar a motivar-nos a nós próprias e motivar-vos para perseguirmos os nossos sonhos. A principal mensagem que queremos passar é a de que ninguém deve achar-se limitado na sua vida e nas suas opções por causa da diabetes e que se aprendermos a geri-la poderemos fazer…. tudo! Ou quase:)